MISSÃO FRONTEIRA
Equipe de jornalistas faz um press trip ao extremo norte do país
Da fronteira com o Suriname ao território francês na América do Sul, uma jornada pelos bastidores da vida militar e pela resistência dos povos originários da Amazônia.
Ao final de uma missão como essa, o que se passa na cabeça não é exatamente um relatório. É um filme. Uma sucessão de imagens, sons, vozes e sensações que se sobrepõem como camadas de memória viva. O meu começou na Base Aérea de Belém, onde embarcamos a bordo do helicóptero Jaguar – modelo HM4 – rumo ao Comando Militar do Norte, batizado em homenagem ao Capitão-Mor Pedro Teixeira. Lá, o general de brigada Roberval de Almeida, comandante da 22ª Brigada de Infantaria de Selva, nos recebeu com um briefing direto e acolhedor. Missão dada, missão iniciada.
Do alto, a floresta amazônica é um tapete denso, interminável. Seguimos até o 1º Pelotão Especial de Fronteira, em Tiriós — um dos pontos mais isolados e geopolíticos do Brasil. Essa unidade existe para garantir soberania onde o mapa parece querer se desfazer em verde. Ali, o Exército não apenas protege: ele também serve. Geração de energia por usina fotovoltaica, atendimento médico e odontológico às comunidades indígenas. Conhecemos o cacique Tito Tuchaua Tiriyó e vimos de perto o cotidiano de um povo que resiste com dignidade, cultura e força.
De volta ao Jaguar, nosso próximo destino foi Clevelândia do Norte, no município de Oiapoque (AP), onde se localiza a Companhia Especial de Fronteira. Criada em 1919, a vila militar sobrevive entre corredeiras e histórias. Ao som da banda da Companhia, fomos recebidos com uma mistura de formalidade e afetividade rara. Aqui, a missão ganhou novos contornos: acompanhamos de perto a operação Ágata, cujo objetivo é conter crimes transfronteiriços e ambientais — garimpo ilegal, tráfico de drogas e contrabando. Ali, cada passo é vigilância. Cada gesto, resistência.
Na cidade de Oiapoque, testei meu francês rudimentar. A multiplicidade de línguas, rostos e cheiros daria um nó na cabeça de qualquer antropólogo. Cruzamos a ponte Binacional e pisamos em solo francês — a Guiana Francesa, território ultramarino da Europa cravado no coração da floresta sul-americana. Um lembrete visual e sensorial de que as fronteiras da Amazônia são tão políticas quanto simbólicas.
De volta a Clevelândia, banhei-me nas águas geladas do Oiapoque. Foi um alívio real e metafórico — o corpo ainda pulsava as imagens gravadas no trajeto. Na manhã seguinte, embarcamos rumo à Aldeia Waiãpi, num voo conduzido pelo Maj. Aleixo. Lá, documentei a atuação do Comando Militar do Norte junto a essa etnia de contato considerado recente, que ainda preserva tradições com impressionante vigor. Conversei com o cacique Kumaré Waiãpi, guardião de uma cultura milenar em permanente estado de alerta.
O último trecho da missão nos levou de volta a Macapá, onde dormimos por conta do mau tempo. Pela manhã, enfim, Belém. Chegar foi como acordar de um sonho vívido, mas o filme segue rodando. Em silêncio, as imagens continuam. A Amazônia não sai de cena tão fácil.
1 Comentários
show!
ResponderExcluir